Homossexualidade Animal

 ANIMAL WORLD

Foi por 10 anos que o biólogo americano Bruce Bagemihl passou revirando tudo o que se publicara sobre o comportamento sexual animal. O resultado são as 750 paginas que está no livro Biological Exuberance - Animal Homosexuality and Natural Diversity ("Exuberância Biológica - Homossexualidade Animal e Diversidade Natural"), publicado em 1999 nos EUA. O livro é estarrecedor, inclui em torno de 130 espécies de aves, além de insetos, chimpanzés, bisões, pingüins, golfinhos e búfalos, entre outros animais que já foram flagrados em atos de sexo oral, anal ou masturbação com parceiros do mesmo sexo. O etólogo (estudioso do comportamento animal) César Ades, da Universidade de São Paulo (USP), concorda com o colega americano sobre a existência desses comportamentos, mas faz uma ressalva: "Não podemos afirmar que existe um homossexualismo no reino animal semelhante ao que ocorre na espécie humana." Para Ades, muitas vezes os animais recorrem ao homossexualismo com a finalidade de facilitar a reprodução, atenuar conflitos ou criar parcerias estratégicas. Não estariam, portanto, tendo esse tipo de comportamento por se sentirem sexualmente atraídos pelo parceiro, como ocorre entre os humanos.
Há quem sustente que bichos do mesmo sexo só se envolvem quando não têm outra opção. Por exemplo, quando, em uma região, há muito mais machos que fêmeas ou vice-versa. É o que defende o escritor e biólogo americano John Alcock, especialista em comportamento animal da Universidade do Estado do Arizona. “O macho dirige impulsos sexuais não satisfeitos para alvos inadequados”, diz .Bagemihl admite que isso ocorra com freqüência. Mas prova que não é sempre assim. Ele mostra que, em comunidades de girafas de maioria masculina, as fêmeas disponíveis podem ser ignoradas pelos machos. Na verdade, alguns se recusam a copular com elas e preferem a companhia de um igual.


Outros cientistas justificam o homossexualismo atribuindo-o ao confinamento. Animais enjaulados seriam levados a essa prática para aliviar o estresse ou porque sofrem de distúrbio psicológico. Essa teoria era reforçada pelo fato de que, em muitas espécies, até pouco atrás só se documentava atividade desse tipo nos zoológicos.Leões, gorilas, elefantes, muitos golfinhos e aves eram tidos como homossexuais apenas em cativeiro. Nas ultimas décadas, porém, pesquisas na natureza mostraram que a homossexualidade fora da jaula só não tinha sido registrada antes por um simples motivo: ninguém procurou direito.
Por fim, alguns pesquisadores associam o homossexualismo animal a desvios morais.

Exemplos de comportamentos homossexuais entre animais:
GAIVOTA
Segundo o biólogo americano Bruce Bagemihl, de 10% a 15% das gaivotas apresentam comportamento homossexual. As fêmeas costumam formar "casais" quando há falta de machos no seu hábitat. Uma delas assume a função de "chefe da casa", cuidando do ninho, da alimentação e inclusive montando sobre a outra


BESOURO
Quando se defrontam com um macho maior, besouros de uma espécie da Costa Rica se viram de costas, oferecendo a ponta do abdome como se fossem uma fêmea. Se durante esse cortejo (bastante ativo!), aparecer uma fêmea no pedaço, o macho imitador aproveita a oportunidade para copulá-la bem em frente do rival, que já está "ocupado"


GANSO
Os cientistas já observaram "casais" de gansos formados por indivíduos machos que se unem por toda a vida depois de participarem de uma espécie de ritual em que emitem juntos o chamado "grito do triunfo"

BISÕES
Alguns estudos mostram que, entre os machos com 3 anos ou menos, mais da metade das relações sexuais dos bisões é praticada com animais do mesmo sexo. Esse rala-e-rola não está associado a um comportamento de dominância e costuma durar mais do que nas relações hetero

BONOBOS
Esses macacos parecidos com chimpanzés são alguns dos parentes mais próximos da raça humana e têm fama de possuir admirável energia sexual.
Os bonobos se organizam em bandos comandados por fêmeas e é comum flagrá-las trepadas nas árvores em carícias pra lá de apimentadas.


Bagemihl reconhece que a discussão sobre o “erotismo animal” é a parte mais especulativa do seu livro, devido à dificuldade de demonstrar que os bichos também têm sensações de prazer. Tudo bem raciocina ele. “Eu gostaria que meu livro se tornasse uma fonte importante de pesquisas futuras, mesmo se muita gente discordar das minhas conclusões.” Nesse ponto, Alcock nem tenta polemizar. “O homossexualism existe e precisa ser discutido.”
________________________________________________
Fonte:
Revista Super Interessante, edição 234 de 13 de Dezembro/ 2006
http://mundoestranho.abril.com.br/edicoes/43/perguntaresposta/conteudo_89361.shtml