Meio Ambiente: A influência dos herbívoros sobre os ecossistemas


Os animais herbívoros são um dos elementos da biodiversidade dos ecossistemas. Eles agem sobre a biodiversidade vegetal por intermédio de sua ação sobre as espécies dominantes, sobre as possibilidades de regeneração da vegetação, sobre o transporte de propágulos. Sua ação depende tanto do clima (precipitações) quanto da natureza do solo (fértil ou não-fértil).
A presença de herbívoros aumenta a biodiversidade de vegetais e a produção primaria, desde que o consumo por esses herbívoros não ultrapasse um certo patamar (Loreau 1995). Além desse patamar, a biodiversidade e a produtividade e a produtividade diminuem. Essa relação entre a intensidade do pastejo pelos herbívoros, a biodiversidade e a produtividade foi demonstrada em inúmeros casos. Um estudo comparado de zonas pastejadas por ungulados e zonas excluídas de pastejo foi realizado em dois ecossistemas de vegetação herbácea: o Parque de Yellowstone, na América do Norte, e o Parque de Serengeti, na África Oriental (Frank et al., 1998). A produção primária epigéia é quase sempre superior nas zonas pastejadas. Contudo, esses efeitos dependem das espécies herbívoras. Os grandes mamíferos aumentam a produção quando não são abundantes, e diminuem essa produção quando são muito numerosos. Os insetos herbívoros geralmente têm um impacto pequeno, mas favorável.

Gnus pastejando no Serengeti na África Oriental

As proliferações de espécies especializadas sobre uma planta dominante podem aumentar a diversidade vegetal. Os mamíferos escavadores de tamanho médio, como coelhos ou cães-de-pradaria, podem provocar modificações no solo que aumentam a heterogeneidade e a biodiversidade.
Considerações teóricas permitem pensar que os herbívoros aumentam a biodiversidade em escalas correspondentes a pequenas superfícies, reduzindo a competição e aumentando o numero de sítios de regeneração possíveis. Em escalas correspondentes a grandes superfícies, a biodiversidade é reduzida, visto que subsistem principalmente espécies resistentes ao pastejo.Essa teoria é confirmada por observações feitas no pampa da Argentina, onde a biodiversidade vegetal é elevada. (Channeton e Facelli, 1999).

Vista aérea de um pampa na Argentina, um lugar segundo Channeton e Facelli com alta biodiversidade vegetal.

As espécies não desempenham papeis equivalentes no funcionamento dos ecossistemas. Uma espécie-chave é aquela cujo impacto sobre o ecossistema a que pertence é muito grande, dada sua abundancia relativa. Uma espécie-chave por sua ação em geral produz um aumento da heterogeneidade do ambiente e da biodiversidade. É o caso do bisão da Pradaria norte-americana. O pastejo seletivo por esse animal provoca uma redução da abundância de gramíneas com fotossíntese C 4 que são dominantes na ausência do bisão, um aumento da abundância da gramíneas e de dicotiledôneas C3 e um aumento de 23% da diversidade especifica da vegetação em relação aos sítios não pastejados. Isso é acompanhado de um aumento da heterogeneidade espacial que pode ser detectado e medido por fotografias aéreas.

O Bisão é um animal que pode provocar mudanças na vegetação das pradarias
O papel dos herbívoros “pastadores” foi estudado no meio marinho. A presença de peixes herbívoros e de Equinodermos age sobre a biodiversidade das algas, que geralmente é superior à que se observa na ausência dos herbívoros.
A idéia de que os ecossistemas complexos são instaveis dominou a literatura ecológica durante quase vinte anos, em consequência da elaboração de modelos que não refetem a realidade . Um modelo mais complexo e realista do que os modelos comoo de May mostra que as numerosas interações existentes nas redes tróficas de ecossitemas ricos em espécies são fatores de estabilidade e de persistência que tendem a manter os efetivos de diversas espécies longe de zero, o que diminui sua probabilidade de extinção.

FONTE DE PESQUISA:
- CHANETON, E. J. & FACELLI, J. M., 1991. Disturbance effects on plant community diversity: spatial scales and dominance hierarchies. Vegetation, 93, p. 143-156
- DAJOZ, R., 2005, Princípios de ecologia; tradução Fátima Murad. – 7. ed. – Porto Alegre: Artmed, p. 409
- FRANK,D. A. et al. 1998, The ecology of the earth’s grazing ecosystems. Bioscience, 48, p. 513-521.
- LOREAU, M., 1995. Consumers as maximisers of matter and energy flow in ecosystems. Amer. Nat., 145, p. 22-42

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