A adubação verde é utilizada pelos agricultores há mais de mil anos, em distintas regiões do mundo, para melhorar as propriedades físicas , químicas e biológicas dos solos agricultados, muito antes, pois, do advento da adubação química. A eficiência da adubação verde é comprovada também no controle de nematóides, quando se utilizam leguminosas específicas, problema para o qual os produtos químicos, além de caros, não apresentam resultados satisfatórios.
O adubo verde promove ainda a reciclagem de nutrientes de camadas profundas do solo para a superfície, em formas assimiláveis pelas plantas cultivadas, quando utilizadas espécies com sistema radicular profundo. Alguns estudos indicam que, por essa característica, tal prática promove o rompimento das camadas de compactação sub-superficiais do solo resultantes da mecanização (pé-de-grade), o que melhor explorado poderia se constituir em uma excelente alternativa aos atuais métodos mecânicos de subsolagem, de elevado custo e consumo energético.
Mas onde talvez resida seu maior potencial é na capacidade de substituir parcialmente os fertilizantes nitrogenados derivados do petróleo, através da fixação biológica do Nitrogênio efetuada pelas leguminosas , via atuação do Rhizobium, bactéria que age em simbiose com as plantas fixadoras de nitrogênio no solo, auxiliando-as nesta tarefa.
Dados de pesquisas dão conta que as leguminosas, quando cultivadas em condições favoráveis, fixam facilmente 60 a 100 Kg/ha/ano de Nitrogênio, havendo casos excepcionais em que tais valores atingem 360 a 400 Kg/ha/ano. (exemplo: Leucena).
No caso brasileiro, as pesquisas com adubação verde tiveram continuidade até meados dos anos 60, quando as preocupações passaram a se concentrar na viabilização do modelo industrial químico-mecânico, e as práticas biológico-vegetativas foram relegadas a um segundo plano, além do fato de ser vista com alguma reserva pelos agricultores, pois as tecnologias disponíveis exigiam que se perdesse uma safra agrícola (ano) para se proceder o seu cultivo. Estudos recentes, no entanto, demonstraram que é perfeitamente viável se proceder a adubação verde nos períodos de entre-safra (fevereiro/março a julho/agosto) na região centro-sul , ou ainda como planta companheira (plantada nas entrelinhas da cultura), superando-se assim este inconveniente.
Além destas características a adubação verde contribui para controle de:
Ervas daninhas - A adubação verde pode contribuir para o controle de ervas daninhas, não só pelo grande volume de massa verde e palha (cobertura morta), (que impedem a passagem de luz que é essencial para a germinação da erva daninha), como também por alelopatia (ou seja, liberando substâncias pelas raízes que inibem a germinação das ervas).
Incorporação de matéria orgânica - A adubação verde contribui para a manutenção da estruturação e fertilidade do solo. Isto não quer dizer que seja dispensável a calagem: esta deve ser feita normalmente com base na análise de solo e de acordo com a cultura a ser cultivada.
É importante salientar que a incorporação da espécie utilizada como adubo verde deve ser feita antes da formação das sementes (caso haja), não permitindo que esta se transforme em planta invasora, o que poderia trazer para o produtor todos os problemas inerentes a esta situação. Não havendo produção de sementes, pode ser feita quando o adubo verde estiver seco, facilitando a mecanização neste processo. No Brasil conta-se hoje com diversas espécies vegetais que se prestam como adubo verde, podendo ser elas de verão ou inverno, leguminosas ou gramíineas, dentre as quais pode-se citar :
Diante destas características, pode-se concluir que a utilização da adubação verde em conjunto com outras práticas culturais (manejo integrado de pragas e doenças, e rotação de cultura), concorre substancialmente para a redução ou até mesmo o não uso de agrotóxicos (fungicidas, nematicidas, herbicidas etc..), e de adubos químicos principalmente os nitrogenados, possibilitando ao agricultor menor custo de produção, menor risco de intoxicação dos trabalhadores e dos alimentos, e o cultivo por vários anos na mesma área. Isto seria quase impossível no cultivo tradicional devido ao surgimento de pragas e doenças. Poderá ainda o produtor receber preço diferenciado pelo produto, seguindo uma tendência mundial de produção de alimentos mais saudáveis, sem causar tanto desequilíbrio ao meio ambiente.
A evolução do consumo de fertilizantes e defensivos agrícolas no Brasil revela um crescimento acelerado no período correspondente ao chamado "milagre econômico". A sustentação dos níveis de consumo destes insumos atingidos na última década, parece exigir um "novo milagre" se considerarmos a grave conjuntura econômica por que passa este país altamente dependente do exterior.
Neste caso, a adubação verde poderia constituir em determinadas circunstâncias uma fonte alternativa de insumos importados, em especial os fertilizantes nitrogenados.
No entanto, se efeitos positivos podem advir da adubação verde, é necessário prevenir seus possíveis efeitos negativos. Há indicações de que uma consorciação de determinadas espécies de leguminosas em culturas econômicas perenes pode acarretar redução de rendimento destas, devido à provável competição por fatores vitais. Cabe salientar ainda os riscos de multiplicação de patógenos (nematóides, fungos etc.) por leguminosas hospedeiras, em detrimento das culturas econômicas suscetíveis, e os danos às plântulas da cultura que sucede a incorporação do adubo verde sem suficiente antecedência.
Uma reativação de estudos na área de adubação verde exige uma modernização de sua concepção. Ao lado de estudos básicos que visam informações universalmente válidas, um elenco de projetos tecnológicos devem ser propostos para ajustar a introdução desta prática às circunstâncias de cada local.
Apenas com um programa multidisciplinar integrado e duradouro poderá avaliar-se a dinâmica a dinâmica da introdução da adubação verde num sistema de produção, pelos seus efeitos como cobertura viva ou morta de sua incorporação ao solo.
Fonte: Universidade Federal de Lavras ( www.ufla.br)
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