O uso indiscriminado de agrotóxicos no Brasil

SOS PLANETA TERRA


Quando falamos em uso de agrotóxicos o Brasil é o campeão desde 2008, ocupando o primeiro lugar no ranking mundial de consumo. Nos últimos dez anos esse mercado teve um crescimento de 190% no Brasil, de acordo com dados divulgados pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A situação é alarmante praticamente a maioria dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por agrotóxicos.
Outra situação alarmante é que a indústria considera ainda que 20% dos agrotóxicos utilizados no Brasil são contrabandeados, ou seja, os números podem ser até bem maiores. O comércio ilegal desses produtos movimenta R$ 7 bilhões por ano. A grande parte dos agrotóxicos proibidos que entram no Brasil vem da China. E a principal rota de acesso é o Paraguai. Somente em 2014, o país vizinho importou acima da necessidade interna de benzoato de emamectina. Foram comprados US$ 110 milhões.
Grande parte desses agrotóxicos contrabandeados são proibidos no Brasil, alguns possuem alta toxidade e de proibição em outros países também. Além disso, o uso indiscriminado desses produtos é um problema, pois sem fiscalização estes são usados por agricultores sem orientação técnica necessária, colocando em risco o meio ambiente e a saúde das pessoas.
 Somado a isso o fator desses produtos fabricados no Brasil serem concedidos pelo Governo à redução de 60% do ICMS (imposto relativo à circulação de mercadorias), isenção total do PIS/COFINS e do IPI à produção e comércio dos pesticidas, segundo listou João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). O que resta de imposto sobre os agrotóxicos representam, segundo Olenike, 22% do valor do produto. 

Desde 2008 que a Anvisa iniciou a reavaliação de 14 pesticidas que podem apresentar riscos à saúde. Embora o estudo ainda não tenha sido completamente concluído, entre esses seis pesticidas foram banidos e dois foram autorizados a permanecer no mercado sob algumas restrições. Entre os agrotóxicos que não foram avaliados está o carbofurano, usado como inseticida principalmente em culturas de soja e milho.
O outro é o glifosato que foi o ingrediente mais vendido em 2013 segundo os dados mais recentes do IBAMA(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) e que em 2015 foi considerado cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde. No artigo publicado em 10 de Outubro de 2016 no Jornal Correio do Povo pelo presidente da AGRAPAN (Associação Gaucha de Proteção com Ambiente Natural) Leonardo Melgarejo, foi enfatizado que há um aumento considerado de glifosato em grão de soja. Segundo ele, “Apenas no Brasil são despejados, a cada ano, mais de 190 milhões de litros desse veneno no meio ambiente”.
Outro exemplo é o 2,4-D, que é um dos ingredientes do chamado 'agente laranja', que foi pulverizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã, e que deixou sequelas em uma geração de crianças que, ainda hoje, nascem deformadas, sem braços e pernas. Essa substância tem seu uso permitido no Brasil e está sendo reavaliada pela Anvisa desde 2006. Ou seja, faz quase dez anos que ela está em análise inconclusa.
A demora em finalizar essa reavaliação fez o Ministério Público brasileiro entrar com uma ação, em junho de 2015, pedindo maior agilidade no processo. Na época, a Justiça acatou o pedido e estabeleceu um prazo de 90 dias para que todos os estudos fossem concluídos. Mas o setor do agronegócio também se moveu.  O que ocorre é que há uma forte pressão de setores interessados na comercialização dessas substâncias, isso cria um obstáculo a mais para o impedimento desses agrotóxicos que já são proibidos em outros países.
O governo Federal no inicio de 2017 autorizou o Ministério da Agricultura a assumir as informações sobre os agrotóxicos já registrados, excluindo a ANVISA e o IBAMA do controle do registro desses novos agroquímicos. Essa mudança no controle das informações faz parte de uma ação coordenada por representantes do agronegócio que trabalham para acelerar a tramitação e aprovação de projetos de lei que tem como objetivo facilitar a aprovação, o registro, a comercialização, a utilização, o armazenamento e o transporte de agrotóxicos, aumentando a presença dessas substâncias nas lavouras brasileiras. 
 Com o aumento desses venenos nas lavouras a grande preocupação agora é a saúde da população, pois quando analisamos as novas evidências científicas sobre os danos causados pelos agrotóxicos as coisas ficam mais grave, segundo um artigo1 publicado na revista “Science of the Total Environment” fez uma revisão de efeitos causados por agrotóxicos na saúde como: câncer, asma, diabetes, Mal de Parkinson, leucemia e efeitos cognitivos, como baixo QI em crianças, mal funcionamento da memória, autismo e baixa compreensão verbal. Foi mencionada ainda redução da atividade do esperma em homens, entre outros efeitos.
O meio ambiente sente fortemente com a contaminação desses agentes químicos, o solo que retém uma parte de contaminantes, fragilizam-no e reduzem a sua fertilidade, além de desencadear a morte de micorrizas, diminuir a biodiversidade do solo, ocasionar acidez, entre outros problemas. No ar os agrotóxicos podem ficar em suspensão e desencadear a intoxicação de pessoas e de outros organismos vivos e nas águas, o impacto dos agrotóxicos depende do tipo de substância que foi utilizada e também da estabilidade do ambiente atingido. Todavia há casos de mortes de várias espécies de plantas aquáticas e animais, influenciando toda a comunidade aquática.
Buscar uma solução imediata para este problema não é simples, mas a alternativa para se proteger dos agrotóxicos seria o consumo de alimentos orgânicos, que não levam nenhum tipo de agrotóxico em seu cultivo. Porém, ela ainda é pouco acessível à maioria da população. Em média 30% mais caros, esses alimentos não estão disponíveis em todos os lugares. O que deveria ser feito também seria o aumento da fiscalização do uso desses produtos pelos órgãos públicos competentes, assim pelo menos diminuiria o uso abusivo dessas substâncias nas lavouras.

Referências:
  • DAHER, R.; Carta Capital - Brasil, Paraiso dos Agrotóxicos. Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/economia/brasil-paraiso-dos-agrotoxicos.Acesso em 05 de Fe. de 2017
  • LUGLIO, A.; Estadão Sustentabilidade- Consumo de Agrotóxicos no Brasil. Disponível em: http://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/alessandra-luglio/consumo-de-agrotoxicos-no-brasil/. Acesso em 06 de Fev. de 2017
  • MELGAREJO, L.; Jornal Correio do Povo - Os agrotóxicos e a conversa fiada. Publicado em 10 de Outubro de 2016. Disponível em: http://www.agapan.org.br/2016/10/os-agrotoxicos-e-conversa-fiada.html. Acesso em 06 de Fev de 2017
  • OLIVEIRA, C.; Rede Brasil Atual (RBA) - Temer antecipa "pacote veneno" e proíbe ANVISA de se manifestar sobre agrotóxicos. Disponível em: http://www.redebrasilatual.com.br/saude/2017/02/temer-antecipa-2018pacote-do-veneno2019-e-proibe-anvisa-de-dar-informacoes-sobre-agrotoxicos. Acesso em 04 de Fev. de 2017
  • ROSSI, M.; Jornal El País(Brasil) - O "alarmante" uso de agrotóxicos no Brasil atinge 70% dos alimentos. Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/29/politica/1430321822_851653.html. Acesso em 09 de Fev. de 2017 
  • ._________Envolverde - Brasil: lider mundial no uso de agrotóxicos.Disponível em:http://www.envolverde.com.br/1-1-canais/brasil-lider-mundial-no-uso-de-agrotoxicos/. Acesso em: 04 de Fev. de 2017
  •  .________ Revista Science of the Total Environment. Disponível em: ¹https://www.researchgate.net/publication308016467_Exposure_to_pesticides_and_the_associated_human_health_effects

1 comentários:

Cida Oliveira disse...

Parabéns!
Excelente matéria!
Amei às referências!